As deep techs estão no centro da inovação tecnológica no Brasil. Baseadas em ciência, engenharia e pesquisa aplicada, essas startups representam a fronteira da transformação nos setores de saúde, energia, agro e indústria. Neste guia definitivo, entenda o que são deep techs, onde atuam e por que o país é destaque nesse ecossistema.
As startups deep tech estão transformando a forma como ciência e tecnologia chegam ao mercado. Baseadas em pesquisa aplicada, engenharia avançada e desenvolvimento científico, essas empresas têm o potencial de reconfigurar indústrias inteiras — da saúde à energia, do agro à mobilidade.
No Brasil, as deep techs vêm ganhando força com um ecossistema estruturado, políticas públicas de fomento e protagonismo crescente de universidades e centros de pesquisa. O cenário aponta para uma década decisiva na consolidação de soluções que nasceram na academia, mas que já começam a gerar impacto direto na economia e na sociedade.
"Deep Tech vs. Tech Tradicional: Qual a diferença?"
O termo deep tech se refere a empresas que criam produtos ou processos com base em avanços científicos significativos. São tecnologias desenvolvidas a partir de anos de pesquisa, que envolvem alto risco de desenvolvimento, mas também um enorme potencial de transformação.
Diferente das startups digitais tradicionais, voltadas para soluções comerciais de rápida validação, as deep techs enfrentam longos ciclos de P&D e dependem de validações técnicas complexas.
Segundo o Relatório Deep Techs Brasil 2024, a diferenciação, em especial das tecnologias puramente digitais (“Hard tech”, “tough tech”, “frontier tech”, “deep tech”), onde não há mais risco de desenvolvimento, é fundamental para a redução de assimetria entre fundadores e investidores. As principais definições utilizadas estão baseadas na originação e originalidade da tecnologias, as quais possuem “avanços científicos ou de engenharia inovadores que estão sendo transformados em produtos e empresas pela primeira vez”.
Essa classificação pode ser segmentada em cinco critérios para entendimento da tecnologia:
- Atuação na fronteira do conhecimento;
- Ciclos de desenvolvimento mais longos e incertos;
- Fortes conexões com universidades e institutos de ciência e tecnologia;
- Foco em industrialização e aplicação tangível;
- Modelo guiado por missões — como sustentabilidade, saúde e energia limpa.
O avanço da ciência como motor de inovação
As deep techs surgem de ambientes científicos e evoluem a partir de experimentação, protótipos e validações sucessivas. A internet, por exemplo, começou como um projeto acadêmico-militar (Arpanet) e só décadas depois se tornou base da sociedade digital. Deep techs seguem uma lógica semelhante, ao transformar pesquisa fundamental em tecnologias acessíveis e aplicadas.
O cenário das deep techs no Brasil
Atualmente, o Brasil possui 875 startups deep techs mapeadas, o que o posiciona como líder na América Latina. A concentração dessas empresas está no Sudeste, com destaque para São Paulo (55%), impulsionado por universidades como USP, UNICAMP, ITA e programas de fomento como o PIPE-FAPESP.
Apesar disso, outras regiões também começam a se destacar, apoiadas por programas como o Inova Amazônia, Catalisa ICT e Embrapii, que atuam na descentralização da ciência aplicada e na valorização de biomas estratégicos.
Setores de mercado impulsionados pelas deep techs
O mapeamento mostra uma forte presença das deep techs em setores críticos. As áreas com maior concentração de startups são:
- Saúde humana e farmacêutica (243 empresas);
- Agronegócio e saúde animal (202);
- Química, petroquímica e materiais (71);
- Energia, sustentabilidade e alimentos aparecem em seguida.
Esses dados refletem a conexão direta dessas tecnologias com os grandes desafios da sociedade brasileira e com agendas globais como segurança alimentar, bioeconomia e descarbonização.
Tecnologias que sustentam o avanço das deep techs
A biotecnologia aparece como a tecnologia dominante entre as deep techs brasileiras, seguida por inteligência artificial, computação em nuvem, nanotecnologia e cleantech. Essa diversidade tecnológica mostra como essas empresas estão na vanguarda da inovação.
A combinação entre algoritmos, biologia molecular, novos materiais e sensoriamento remoto, por exemplo, tem gerado soluções para áreas como saúde de precisão, agricultura regenerativa e energia renovável.
Maturidade, estrutura e desafios de escalabilidade
Grande parte das deep techs brasileiras ainda se encontra nas fases iniciais do desenvolvimento de suas tecnologias. Segundo o relatório, apenas 30% chegaram às etapas de comercialização e expansão. O foco da maioria ainda está em validar a viabilidade científica, técnica e de mercado de suas propostas.
Além disso, 70% das startups possuem até 10 pessoas em suas equipes, o que reforça o caráter enxuto e altamente técnico desse tipo de negócio.
Investimento e fomento à inovação científica
O desenvolvimento de deep techs no Brasil está fortemente ligado ao investimento público. 70% das startups que receberam aportes superiores a R$ 5 milhões utilizaram recursos públicos, especialmente via FAPESP, Finep, Embrapii e Sebrae.
Essa dependência de subvenções evidencia a necessidade de fortalecer o ecossistema privado de financiamento, com fundos especializados e maior apetite por risco tecnológico. Ainda assim, os dados apontam para um crescimento da presença de investidores-anjo e de venture capital corporativo, sobretudo nos setores de saúde e energia.
Um setor com reconhecimento e projeção global
O relatório destaca um dado relevante: deep techs foram consideradas o setor mais inovador do mundo em 2024, segundo pesquisa da Techstars. Isso reforça o posicionamento estratégico dessas empresas em um momento de transformação global, onde a ciência aplicada se torna o principal vetor de competitividade.
Esse reconhecimento fortalece o ecossistema brasileiro, que já reúne casos reais de spin-offs universitárias adquiridas por grandes grupos nacionais e internacionais.
A consolidação das deep techs no Brasil mostra que o país tem capacidade técnica, científica e institucional para ser referência global em inovação de base científica. Com um ecossistema formado por pesquisadores empreendedores, universidades ativas e políticas públicas consistentes, o desafio agora é avançar no acesso a capital privado e ampliar a conexão entre ciência, indústria e mercado.
Aproximação do ecossistema
Para empresas, desenvolver soluções junto a deep techs reduz o risco, custo e tempo para realizar projetos de desenvolvimento de tecnologias para tópicos complexos.
A aproximação com o ecossistema de deep techs oferece uma camada estratégica fundamental para empresas que desejam estruturar ou aprofundar seus territórios de inovação. Ao acompanhar de forma sistemática os avanços científicos, os campos emergentes de pesquisa e o movimento das startups de base tecnológica, companhias conseguem expandir sua compreensão sobre o futuro da inovação e orientar suas decisões de PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) com maior embasamento.
Esse relacionamento qualificado permite antecipar tendências que devem se consolidar nos próximos três a cinco anos, evitando que novas soluções disruptivas — muitas vezes fora do radar tradicional — surpreendam o negócio e exijam respostas rápidas, improvisadas e de alto risco. Integrar-se a esse ecossistema é, portanto, uma forma de construir estratégias de inovação tecnológica mais robustas, seguras e alinhadas à transformação global em curso.
O Brasil pode ser líder em Deep Techs?
Sim. O país tem os elementos necessários: capital intelectual, biodiversidade, redes de pesquisa e programas públicos bem estruturados. O desafio é ampliar o número de conexões entre universidades, indústrias e investidores, fortalecendo um ciclo de inovação contínuo.
Para aprofundar os dados e insights apresentados neste artigo, acesse o Relatório Deep Techs Brasil 2024. O material reúne análises exclusivas, cases de startups científicas, mapeamentos regionais e um panorama completo do ecossistema nacional de inovação de base científica.
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