Como as deep techs podem ser o ponto de virada para as mudanças climáticas
No Dia Mundial do Meio Ambiente, discutimos o papel estratégico das deep techs no enfrentamento da crise climática.
A agenda climática demanda soluções estruturais, com base científica e aplicabilidade real. A redução de emissões, o uso eficiente de recursos e a adaptação de cadeias produtivas ao novo contexto climático demandam tecnologias que ainda não existem em escala ou precisam ser refinadas para alcançar sua viabilidade comercial. É exatamente nesse ponto que entram as deep techs: startups baseadas em ciência e engenharia de fronteira, com potencial de transformar desafios sistêmicos em soluções escaláveis.
Deep techs: base científica para resolver problemas sistêmicos
As deep techs são startups que desenvolvem produtos ou processos a partir de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico com alto grau de complexidade. Essas tecnologias demandam ciclos longos de P&D e validação, mas, quando maduras, têm alto potencial de impacto em problemas estruturais — como os relacionados à crise climática, transição energética, agricultura regenerativa e gestão hídrica.
Segundo o Relatório Deep Techs Brasil 2024, o país conta com 875 deep techs, das quais 56 têm atuação direta na área ambiental. As soluções desenvolvidas abrangem biotecnologia para agricultura regenerativa, cleantechs para uso e reuso de água, materiais sustentáveis para substituição de produtos petroquímicos e plataformas de análise de dados ambientais com apoio de IA.
Aplicações diretas em clima, energia e sustentabilidade
No campo climático, deep techs atuam de forma direta na mitigação e adaptação aos impactos ambientais. Isso inclui, por exemplo:
Armazenamento e geração de energia limpa, como é o caso da Voltpile, que está revolucionando o setor com baterias de estado sólido. Suas soluções são mais sustentáveis e eficientes que as baterias convencionais de íon de lítio, utilizando materiais abundantes no Brasil e na América Latina. Isso reduz a dependência de insumos críticos, diminui o impacto ambiental da produção e fortalece a cadeia industrial local.
Modelagem e análise de dados ambientais, com uso de sensores, satélites e inteligência artificial para monitorar desmatamento, mudanças no uso do solo e qualidade da água — como faz a startup Inspectral;
Bioinsumos agrícolas e biotecnologia ambiental, voltados à substituição de químicos convencionais, aumento de produtividade com menor impacto ambiental e regeneração do solo;
Novos materiais e resíduos, aplicados à economia circular, tratamento de resíduos e uso eficiente de recursos naturais.
Essas tecnologias criam novos padrões industriais com menor impacto ambiental e maior eficiência na gestão de recursos críticos.
Sua startup pode fazer parte da rede de +1.200 startups deep techs com potencial de escala e conexão com mercado.
Se ela desenvolve soluções de base científica com impacto em clima, energia ou sustentabilidade, inscreva-se na Converge, a maior plataforma de deep techs do Brasil. Ao se cadastrar, sua tecnologia passa a integrar uma base utilizada por empresas, investidores e parceiros estratégicos em busca de soluções aplicáveis e de alto impacto.
A função sistêmica das deep techs no combate à crise climática
Deep techs atuam em setores estratégicos: energia, alimentos, saneamento, indústria e mobilidade. Diferentemente de soluções incrementais, elas propõem novos paradigmas tecnológicos. Isso as torna essenciais para cumprir metas climáticas reais e estruturais, como descarbonização de cadeias produtivas, transição energética e uso eficiente de recursos naturais.
Ao conectar conhecimento científico a demandas de mercado, as deep techs criam novos modelos econômicos que aliam viabilidade técnica, impacto ambiental positivo e diferenciação competitiva. É essa capacidade que as torna agentes-chave na construção de uma economia mais sustentável baseada em inovação de base.
Iniciativas para ampliar o impacto
A aceleração dessas tecnologias no Brasil depende da articulação entre ecossistema de inovação, indústria e setor público. Programas como PIPE-FAPESP, FINEP, Catalisa ICT e EMBRAPII já vêm apoiando a fase de P&D. Por outro lado, iniciativas como a Converge — plataforma da Emerge que conecta deep techs a grandes empresas e investidores — são fundamentais para facilitar o acesso ao mercado e escalar soluções com maturidade tecnológica crescente.
A crise climática exige tecnologias que operem com novas lógicas de produção, distribuição e consumo. Startups deep techs cumprem esse papel ao unir ciência, engenharia e mercado em soluções concretas.
Para que esse movimento ganhe escala, é preciso alinhar incentivos públicos, capital de risco e parcerias com grandes empresas. O Brasil tem os ativos, a ciência e o mercado. Com a estrutura adequada, pode liderar a próxima geração de soluções climáticas baseadas em deep techs.
Além disso, no Brasil ocorre o Deep Tech Summit, principal evento latino-americano dedicado à inovação científica, com foco em soluções de impacto sistêmico, incluindo o eixo climático. O evento reúne anualmente startups, pesquisadores, corporações e investidores para debater rotas tecnológicas com potencial de impacto direto nas metas de descarbonização e resiliência climática e em 2025 acontecerá nos dias 29 e 30 de setembro, em São Paulo.