As spin-offs acadêmicas são empresas desenvolvidas dentro de universidades ou outras instituições de ensino e pesquisa. Todo produto, serviço ou solução criado a partir de conhecimento gerado na instituição também é considerado uma spin-off acadêmica.
As spin-offs acadêmicas são uma das principais formas de transferência de tecnologia da universidade para a sociedade. Os fundadores dessas spin-offs podem ser pesquisadores, professores, estudantes ou técnicos vinculados à universidade ou centro de pesquisa. O papel estratégico das spin-offs no ecossistema de inovação é essencial para transformar ciência em negócios de impacto e impulsionar o desenvolvimento tecnológico do país.
Universidades são centros fundamentais para o avanço do conhecimento e para o desenvolvimento econômico de qualquer país. Em todas as nações que se tornaram potências tecnológicas e industriais, o papel das universidades foi determinante. No Brasil, essa trajetória vem se consolidando, mas ainda há muito a evoluir – especialmente no campo do empreendedorismo científico.
Existem diversas formas de interação entre universidades e o setor produtivo: desde palestras, consultorias técnicas, análises laboratoriais, até projetos de P&D, compartilhamento de infraestrutura, licenciamento de tecnologias e mais. Todos esses instrumentos são previstos na Lei de Inovação e vêm sendo progressivamente implementados nas instituições públicas e privadas de ensino e pesquisa. Como resultado, o Brasil registrou cerca de R$ 2,5 bilhões em receitas com licenciamentos tecnológicos em 2023, de acordo com dados recentes do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação).
Startup, Spin-off e Deep Tech
No entanto, quando falamos de levar uma tecnologia da bancada ao mercado, o caminho exige mais do que cooperação pontual. Muitas vezes, é necessário que os próprios pesquisadores assumam o protagonismo e criem uma startup. Quando essa startup se origina a partir de conhecimentos desenvolvidos na universidade, chamamos de spin-off acadêmica. E quando o desafio envolvido ultrapassa barreiras científicas ou de engenharia complexas, estamos diante de uma deep tech – empresas de base científica e tecnológica de fronteira.
Assim como a interação com grandes empresas é essencial, a relação entre universidade e suas spin-offs acadêmicas é estratégica para alavancar esses empreendimentos. Mas ela exige clareza, flexibilidade e alinhamento.
Propriedade Intelectual e Royalties
Grande parte das tecnologias desenvolvidas dentro das universidades está protegida por propriedade intelectual institucional. Por isso, para utilizá-las, é necessário que a spin-off firme um contrato de licenciamento com o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da instituição. No entanto, esse processo pode se tornar um entrave.
Segundo a base de dados global, muitos empreendedores relatam dificuldades em negociar termos justos. Em diversos casos, as universidades buscam manter grande parte da PI ou impor condições que dificultam a atração de investimentos. O resultado: tecnologias promissoras acabam estagnadas. A recomendação global é que a participação em royalties da universidade fique em torno de 1% da receita líquida, o que equilibra os interesses de todos os envolvidos e facilita a escalabilidade da inovação.
Infraestrutura
Equipamentos de laboratório têm o custo elevado e, em uma startup nascente, o acesso a esses recursos pode determinar o sucesso ou fracasso da validação tecnológica. Por isso, o compartilhamento de infraestrutura entre universidades e spin-offs é essencial. Embora previsto na legislação, esse instrumento ainda é pouco utilizado no Brasil, e precisa ser mais explorado como uma forma eficiente de reduzir o custo do capital fixo (CAPEX) das deep techs.
Pessoal
Spin-offs acadêmicas costumam começar com alunos e professores. Os alunos, muitas vezes bolsistas, precisam de atenção especial ao Termo de Outorga, documento jurídico que define sua relação com a universidade – que hoje já tem sido flexibilizado por várias agências de fomento para incentivar o empreendedorismo.
Os professores exercem papel central: são mentores, formadores e muitas vezes se tornam Scientific Advisors das startups. Seu apoio é decisivo para que ideias científicas se transformem em negócios viáveis. Por isso, é fundamental que a constituição societária da empresa seja feita com clareza, estabelecendo acordos de sócios, percentuais de participação e, se necessário, mecanismos de vesting.
O conflito de interesse é sempre um tema sensível, mas a Controladoria-Geral da União (CGU) já publicou orientações que deixam claro como é possível que servidores públicos participem desses empreendimentos com transparência e segurança jurídica. Temos, inclusive, uma aula dedicada ao tema. Quer saber mais? Entre em contato.
Modelos de interação: universidade, startup e mercado
A interação entre universidade, startup e o mercado pode se dar de diversas formas: licenciamento de tecnologia, contratos de P&D, participação acionária, compartilhamento de know-how, entre outros. Não há um modelo único: tudo depende do perfil da tecnologia, do objetivo dos fundadores e do apetite do mercado.
Mas é importante lembrar que essa é apenas a primeira etapa da jornada empreendedora. Depois do relacionamento inicial com a universidade, será necessário:
- Levantar capital público e privado;
- Atrair pessoas com expertise de mercado;
- Navegar caminhos regulatórios;
- E construir acesso a clientes e canais.
E as spin-offs não-acadêmicas?
Embora este texto foque nas spin-offs acadêmicas, vale mencionar que spin-offs corporativas também são uma tendência. Empresas como a Gerdau Graphene nasceram dentro de grandes corporações para explorar novos mercados. E há também o movimento de ex-executivos que criam deep techs, como é o caso da Cellva, Nintx e Xinterra, que já surgem com conhecimento de mercado, capacidade de captação e acesso a redes estratégicas.
Mas isso é assunto para um próximo texto – ou para nosso webinar sobre spin-offs corporativas e científicas, já disponível.
As universidades são um pilar central na construção de uma economia do conhecimento. Estimulá-las a empreender, profissionalizar a estrutura de apoio às spin-offs e garantir segurança jurídica e incentivo para alunos e professores é fundamental para transformar ciência em impacto. E mais: é o caminho para posicionar o Brasil como um líder global em deep techs.